Inaugurada
recentemente a Biblioteca Pública Infantil de P. Alegre, falando no ato um
menino desembaraçado. Presentes o Secretário de Educação e Augusto Meyer que se
emocionaram com as crianças.
Quem estivesse lá naquela hora do dia 12 de outubro
certamente não teria coração que aguentasse tamanha emoção: grupos de meninas e
meninos pôrto-alegrenses, dos quatro aos doze anos, vestindo as suas melhores
roupinhas, com os olhos bem arregalados, ouviam atentamente as comovidas
palavras do jovem Carlos Eduardo Legori que explicava às altas autoridades
presentes as finalidades e a história da fundação da Biblioteca Pública
Infantil. Vez que outra era o pequeno orador auxiliado na sua espinhosa tarefa
pela Sra. Lucília Minssen. Diretora daquele pequeno núcleo de cultura que assim
desvencilhava o menino dalgum embaraço.
Mas esses não foram muitos e o resultado foi que Carlos
Eduardo, que é poeta e escritor, emocionou a todos que o ouviam com suas
palavras simples, entre os quais o poeta Augusto Meyer (que lá se encontrava
para inauguração) e o Secretário de Educação, Sr. Liberato Salzano Vieira da
Cunha. A êsse último o orador dirigiu-se de modo especial, neste apêlo tocante:
“E ao senhor Secretário que representa o govêrno, pedimos que não se esqueça de
nós”. Expressando-se com essas palavras. Ao final do discurso. O menino acabava
de inaugurar oficialmente a Bibliotequinha. Pois ela desde há muito tempo que
estava a disposição dos seus consultores mirins.
A Biblioteca Pública Infantil está localizada por ora no
modesto porão da bonita casa que serve de sede à Divisão de Cultura da
Secretaria de Educação, na praça Dom Feliciano, ocupando duas amplas salas que
outrora serviam de depósito para material velho, e que agora, completamente
remodeladas e decoradas com excepcional bom gôsto pela pintora Alice Soares,
têm um aspecto festivo. E a criançada não se cansa de admirar nas paredes
aquêles desenhos, vivamente coloridos, representativos da nossa fauna e flora e
ainda os dos conhecidos bonecos dos desenhos animados.
Os méritos desta magnífica realização devem por justiça
caber à professora do Curso de Biblioteconomia, Lucília Minssen, que ajudada
por cinco funcionárias empreendedoras da Divisão de Cultura, muito batalhou
para conseguir a verba necessária. Assim, em fevereiro do ano de 1955 era
fundada em Pôrto Alegre a pequena Biblioteca que carecia de instalações
condignas, mas nem por isso a criançada deixava de lá ir passar as suas
horinhas de recreio. Hoje, a Bibliotequinha presta um grande serviço às mamães
que não dispõe de empregada para cuidar dos seus filhinhos, pois as crianças lá
são muito bem cuidadas e divertem-se tanto que, quando chega a hora de ir
embora, não querem por nada dêsse mundo deixar seus amiguinhos e os livros
coloridos.
Segundo uma média fornecida por sua Diretora, 68,5 crianças
diariamente passam algumas horas na Bibliotequinha. Suas idades oscilam entre
quatro e doze anos, havendo mesmo um de 18 anos (cujo buço já o denuncia homem)
que não se constrange de lá ir para consultar os preciosos livros. A criança
que gostar de um livro e desejar levá-lo para casa terá que assinar uma ficha e
entregá-lo após uma semana, o que a torna automaticamente matriculada na
Biblioteca. Presentemente existem 712 que têm seus nomes no fichário da
Diretora.
2.500 livros, da mais variada literatura, preenchem o espaço
das estantes, predominando os de história infantil. Entretanto, há acentuada
preferência por Monteiro Lobato e outros escritores conhecidos da garotada, o
que vem provar que até mesmo as mentes jovens sabem escolher com inteligência o
alimento do seu espírito.
REVISTA DO GLOBO
03\11\1956